ESTRATÉGIAS DE DISPERSÃO, PRODUÇÃO DE FRUTOS E EXTRATIVISMO DA PALMEIRA Astrocaryum jauari MART. NOS IGAPÓS DO RIO NEGRO: IMPLICAÇÕES PARA A ICTIOFAUNA
DOI:
https://doi.org/10.21704/rea.v2i1-2.244Abstract
Astrocaryum jauari é a palmeira mais freqüente nos igapós do Rio Negro, na Amazônia brasileira, medindo em torno de 20 m de altura, encontrada raramente isolada e comumente formando touceiras com 4 a 6 indivíduos de tamanhos distintos, oriundos a partir de um único rizoma. A abscisão dos frutos ocorre durante o pico das cheias e inicio da descida das águas, sendo estes consumidos por peixes. A palmeira tem valor comercial sendo dela extraído palmito que, por cerca de 20 anos, até 1998, constituiu a base da produção industrial de palmito na Amazônia Central. Este estudo visou estabelecer a dinâmica de produção sazonal e biomassa de frutos de A. jauari em relação aos níveis de inundação de sua área de ocorrência e suas implicações em termos da dispersão e distribuição local da palmeira. Observações sistemáticas foram conduzidas na Estação Ecológica doArquipélago das Anavilhanas, perfazendo uma área total de levantamento de 5.000 m2. Determinou-se a densidade relativa de A. jauari em relação ao nível e duração da inundação anual. A produção de frutos foi acompanhada semanalmente emplantas individuai. Dados sobre peixes foram obtidos por meio de coletas, entrevistas e literatura. A. jauari ocorre das porções mais elevadas às mais baixas da planície alagável, inundadas de 270 a 340 dias/ano. 125 indivíduos de A. jauari ocorreram nos 5.000 m2 amostrados, equivalendo a uma densidade de 250 ind/ha nas Anavilhanas. Apenas plantas adultas diretamente expostas à luz produziram frutos, cada estipe 4 cachos ao ano, com cerca de 90 cm de comprimento, e 106 frutos por cacho. Cada fruto pesou em média 17 g, equivalendo à produção de 6,60 kg/palmeira/ano (peso fresco). 16 espécies de peixes exploram os frutos da palmeira, 10 possíveis dispersoras, dentre elas, 3 também predadoras. Pela ausência de estruturas para flutuação, quando na água os propágulos afundam e, se as condições forem hipóxicas, ocorrerá a morte do fruto e semente. Todas as sementes coletadas boiando estavam podres, descartando a hidrocoria como estratégia de dispersão e, apontando a ictiocoria como mecanismo para a colonização de novos habitats por A. jauari. O elevado conteúdo calórico de vitamina A pode ser atrativo para a busca desse recurso pelos peixes. Em porções alagadas por curtos períodos os frutos podem ficar acumulados próximos a planta adulta (barocoria), ou deslizar pelo relevo em virtude do seu peso, possivelmente com auxílio da ação da água (barocoria + deslizamento), aumentando a densidade local da planta. As espécies ocorrendo nas mesmas faixas de distribuição de A. jauari apresentam a hidrocória e ictiocoria como estratégias de dispersão predominantes, e grande tolerância a prolongados períodos de inundação. Na principal área de extrativismo da espécie no passado, no Município de Barcelos, a densidade de plantas também variou muito entre ilhas, porém, com densidades superiores àquelas encontradas neste estudo, variando de 250 a 2.000 ind/ha. Nesse local, um único trabalhador pode derrubar e pré-limpar até 90 palmeiras na cheia (meses de maio, junho) e cerca de 25 na vazante (dezembro, janeiro). O rendimento por palmeira é de 0.5 a 1 lata de palmito processada. Supondo-se um número médio de 10 trabalhadores na área, de 900 a 250 palmeiras são exploradas ao dia, o que pode corresponder de 1a 0.5 ha derrubados. Considerando as densidades da palmeira e sua produção de frutos calculada para as ilhas Anavilhanas, que foi de 165 kg, o extrativismo sem plantio de reposição, implicaria na exclusão deste recurso para a ictiofauna daquele